Eu imagino que a textura deste bolo seja mais ou menos a de uma nuvem fofa daquelas de desenho animado. Com o contorno bem definido, porém leve como uma… enfim, deu pra entender. É o bolo mais fofo do universo. Pouco doce, ele é uma tela em branco airada cheia de amor.
Tudo começou porque a vida me deu um excesso de claras. E quando digo a vida na verdade quero dizer os Coma no Jardins que rolaram em junho quando servimos crack pie. Alguns de vocês provaram essa maravilha das maravilhas lá no nosso evento lindo (o próximo, e último da temporada será anunciado em breve!). Outros em jantares lá em casa passados ou em festinhas nossas por aí. Outros descobriram essa torta viciante quando assistiram o Chef’s Table de confeitaria com a musa Christina Tosi. E outros, que nos acompanham há tempos por aqui já sabem da minha obsessão de longa data com a Tosi e já viram que a receita de crack pie tá lá nos fundos dos arquivos deste cantinho aqui há anos (clique aqui). E quando você olhar lá a lista de ingredientes vai ver que a receita usa uma quantidade bem generosa de gemas. E a gente fez mais levas dessa torta do que quero contabilizar neste momento lá em junho e, portanto, ficou com claras e mais claras e mais claras de sobra.
E o que fazer meu deus do céu com tantas claras!
Sabia que dá pra congelar? Então essa é a primeira coisa que a gente faz. Porciona em saquinhos com claras de 2-3 ovos, etiqueta, e congelador. Depois é só descongelar e usar como quiser.
A gente faz zilhões de omeletes de clara. É uma opção mega saudável pro café da manhã e é uma solução recorrente ao excesso de claras. Não. Não é, obviamente, a mesma coisa que um omelete tradicional. Mas tem seu valor. E na minha modesta opinião, quando feito no azeite de oliva sem bater rola aquela casquinha de clara que é uma maravilha.
Mas depois de muitos omeletes tinha chegado a hora de fazer algo amerengado pra usar uma quantidade de claras maior de uma só vez (sério, foram muuuuitas levas de crack pie). Não sou pessoalmente mega fã de merengues em si, purinhos daqueles jeito que muita gente ama. Pulo fácil. Mas o mesmo processo de fazer merengue é uma etapa de vários bolos como este angelical daqui. Então lá fui eu.
Alguns itens importantes pra este bolo dar certo. A fôrma precisa ser daquelas tipo de bolo chiffon ou de pudim bem altas com o tubo do meio com um furo ou com pezinhos. Os ingredientes secos precisam sim ser peneirados. E assim que seu bolo sair do forno você precisa colocar ele de cabeça para baixo (daí a necessidade do furo ou pezinhos). Já já explico isso melhor.
Primeiro você bate as claras de leve com vinagre e sal. Daí aumenta a velocidade e bate mais um tico e aos poucos vai acrescentando o açúcar. E bate até virar merengue. Finaliza com uma baunilha e suco de limão e daí aos poucos vai incorporando farinha, amido de milho e açúcar confeiteiro bem peneirados. Massa pronta. E como disse antes, é uma tela em branco. Fica uma maravilha bem neutrinho desse jeito só acompanhado de uma calda de frutas na hora de servir, mas se quiser saborizar com alguma especiaria ou algo mais, agora é a hora.
Outra manha é na hora de colocar na fôrma. Nada de untar para esta receita. Vai metade da massa do bolo para a fôrma e com uma espátula você dá uma puxada na massa pra cima lambrecando bem as laterais e o meio para facilitar o crescimento do bolo e não ficarem uns bolsões de ar. Capricha nos cantos. Depois coloca o resto da massa e dá uma alisada pra ficar bonitinha. E forno.
Uns 40 minutos de forno baixo e seu bolo deverá crescer e ficar lindamente dourado. Aquele esquema de bolo normal. Se o palito saiu limpo, tá pronto. Tira do forno e… vira de cabeça pra baixo. (É igual a este bolo chiffon de chá verde maravilhoso que tá aqui há um tempão e que, aliás, tá na hora de repetir.) A minha fôrma tem pezinhos justamente para isso então é só virar e apoiar neles, mas se a sua não tiver a manha é virar sua fôrma numa garrafa de vinho encaixando o bico da garrafa no buraco do tubo central da fôrma. Não tenha medo. Vai dar certo. Se não der é porque o bolo não estava completamente assado. Aí, realmente, só digo que vai ser uma lambança. Já fui essa pessoa afobada no passado e o meu bolo se desmontou por inteiro quando virei. Mas é porque fui afobada. O palito tá limpo mesmo? Tá bonito? Douradinho? Quando você toca no topo do bolo tem resistência? Tudo isso é mais importante do que os 40 minutos da receita que podem variar enormemente de forno pra forno.
Outra coisa, esse não é daqueles bolos que a gente ataca ainda quentes. Esse processo de esfriar de cabeça pra baixo é essencial para a textura dele se não ele pode afundar. Tem que deixar esfriar por completo! Depois é só vir com uma espátula de bolo soltando as laterais com amor e carinho que ele termina de sair de boa e fica lindão.
Uma calda de morango (mas que poderia ser de várias outras frutinhas ou sabores, claro!), quem sabe um chantilly ou um sorvetinho e você tem uma sobremesa maravilhosa.
- 100g (1 xíc menos 2 c.s.) farinha de trigo
- 25g (2 c.s.) de amido de milho
- 85g (⅔ xic) açúcar confeiteiro
- 1¾ xic claras de ovos (de 12–14 ovos grandes)
- 3 c.c. de vinagre neutro (ou suco de limão)
- 1 c.c. sal
- 133g (⅔ xic) açúcar cristal
- 2 c.s. suco de limão
- 2 c.c. extrato de baunilha
- fôrma de bolo chiffon ou de pudim com laterais altas
- frutas frescas, em calda, chantily ou sorvete para servir
- Pré-aqueça o forno a 180oC.
- Junte a farinha de trigo, amido de milho e açúcar confeiteiro numa tigela grande e misture bem. Peneire.
- Numa batedeira com a tigela bem limpa (ou no muque se preferir) junte as claras, o vinagre e o sal e bata em velocidade baixa só para começar a misturar as claras, uns 30 segundos. Aumente a velocidade para média alta e bata até as claras ficarem espumosas, mais uns 45 segundos. Aos poucos acrescente o açúcar cristal batendo até começar a formar um merengue firme, brilhoso, que segura a forma. Acrescente o suco de limão e baunilha.
- Acrescente 1/3 dos ingredientes secos peneirados e bata em velocidade baixa somente até incorporar. Repita com mais 1/3 e depois com o restante dos ingredientes secos. Remova a tigela da batedeira e use uma espátula para finalizar esse processo raspando bem no fundo e nas laterais para se certificar que tudo ficou bem incorporado.
- Coloque metade da massa na forma limpa (sem untar!). Use uma espátula para espalhar bem a massa nos cantinhos, nas laterais, no meio (isso ajuda a eliminar bolsões de ar). Acrescente o restante da massa e espalhe para ficar o mais liso possível.
- Asse o bolo até que um palito inserido no meio saia limpo, uns 35-40 minutos. O bolo deve estar dourado e ter uma certa firmeza ao tocá-lo.
- Assim que tirar do forno vire a fôrma de cabeça para baixo e encaixe o centro da fôrma numa garrafa de vinho ou, se a fôrma tiver pezinhos, simplesmente apoie nos pés até esfriar por completo. Esse processo é o que faz o bolo ficar fofo sem afundar.
- Desenforme o bolo com o auxílio de uma espátula metálica para ajudar a soltar o bolo das laterais e do tubo central.
- Sirva o bolo com o lado que ficou pra cima na assadeira para cima no prato de servir também. Pode ser servido simples, ou acompanhado de frutas, uma calda simples (como a das fotos, morango e um pouco de açúcar rapidamente cozidos numa panela), chantilly fresco ou sorvete.
A vida pode até não ter te dado o excesso de claras que ela me deu, mas este bolo é maravilhoso o suficiente para justificar abrir 12 ovos. E daí você já tem a desculpa perfeita para fazer um crack pie também. É uma dobradinha perfeita essa daí. (dica amiga: o crack pie congela que é uma beleza.)
Pra completar dá um play nessa música que é a representação musical de como você vai se sentir depois dessa dobradinha – Kenny Garrett – Happy people! E curte a vibe. Vimos o show dele recentemente quando passamos por Barcelona (contamos rapidamente neste post aqui) e essa música foi bem como está nesse vídeo aí. Galera de pé, dançando, num bis sem fim. Impossível não abrir um sorriso.
https://www.youtube.com/watch?v=u34yxcc2kwg
beijos,
Mariana
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