Sabe assim, aquele saladão no capricho? Aquela salada que verdadeiramente é uma refeição? Aquela salada colorida, cheia de camadas e sabores? Aquela que vai realmente te deixar feliz, mas assim, feliz de verdade?
Não dou conta de entender a falta de carinho e amor que os restaurantes por aí dão às saladas. É coisa rara dar de cara com uma salada que cumpra aqueles quesitos ali de cima. É sempre aquela coisinha meio xoxa, sem gracinha, sem gosto. É quase que um “ah é, tem que ter uma salada no cardápio”.
E pô, uma salada de responsa mesmo é uma coisa linda. E sinceramente, ela dá tanto trabalho quanto um prato principal tradicional. Nada de outro mundo, mas o segredo está nos detalhes, e no caso, os detalhes significam tratar cada elemento da salada individualmente. Se ao invés de simplesmente jogar o tomate cortado na salada você der um pouquinho de amor só pra ele, um salzinho, um azeitinho e coisa e tal sua salada já pula de nível. E se você der esse carinhozinho extra pros demais componentes você vai ver como a salada deixe de parecer aquelas de shopping, que super quebram o galho quando você se depara com a situação de estar num shopping na hora do almoço e não quer comer trasheira, mas que você secretamente (ou nem tão secretamente assim) sabe que é bem mahomenos, e vira um pratão daqueles que você vai ficar desejando.
A gente fica desejando. A gente faz variações em torno do tema desta salada de sardinha aqui, que tem uma vibe bem de niçoise, com uma frequência enorme. Às vezes com folhas da horta (desta vez não porque as folhas estão meio fracotes já que passamos quase um mês viajando), um ovinho quase sempre, algum peixinho enlatado (atum e sardinha normalmente, mas muitas vezes a gente omite ou troca por alguma outra proteína que tenha sobrado do almoço), alguma castanha ou semente pra dar um croc, algum outro vegetal que tiver rolando naquele momento, um tomatinho, é a nossa salada mais amada no dia a dia. Ela é farta, colorida, tem crocância, tem untuosidade, tem acidez e verdadeiramente é uma refeição. Nada de umas folhinhas, um tomatinho e um pepino e pronto. Ela sacia mesmo e te deixa feliz.
Eu sempre começo preparando os tomatinhos porque quando você acrescenta sal ao tomate acontece a mágica. O sal extrai o líquido do tomate que vem a ser a água mais saborosa maravilhosa do planeta. Neste post aqui a gente ensina um prato super especial só com ela, aliás. Mas no caso, para esta salada, tempero os tomatinhos com sal, pimenta do reino e azeite sempre. Daí dependendo dos outros ingredientes acrescento outras cositas ou não. Neste dia rolou também um toque de vinagre de vinho branco, alho ralado e meia cebola roxa pequenina fatiada finamente. O massa é que com o tempo vai saindo a água do tomate que mistura com o azeite e o que mais você tiver colocado e forma-se um molho maravilhoso.
Curto acrescentar a vagem francesa pra dar a vibe niçoisística e dar uma crocância carnuda. Pra ficar verde brilhante e não passar do ponto a manha é cozinhar na água fervente por poucos minutos e transferir para uma bacia com água e gelo para parar o cozimento. Funciona que é uma beleza. Pra tudo quanto é legume e vegetal.
Faço o mesmo processo com os ovos. Para saladas curto esse ovo com a gema ainda cremosa. O tempo de cozimento varia um pouco dependendo do tamanho do ovo e nesse dia estávamos com ovos menores que vieram da fazenda da família (o Esdras conta um pouco sobre ela neste post aqui), mas normalmente será em torno dos 7 minutos para essa gema aí. Mesmo esquema de cortar o cozimento na água com gelo. Fica bão com ovo totalmente duro também ou com ovo pochê (a gente explica como fazer aqui), mas meu jeito favorito para salada é esse de 7 minutos aí.
Adoro acrescentar castanhas ou sementes às saladas. Poderia só abrir o pote e jogar, mas rola um up e tanto dar uma tostadinha nelas na frigideira. Pode ser só elas mesmo ou mais um up com um toquinho de azeite e sal e quem sabe alguma especiaria a mais. Só cuidado pra não queimar. É coisa rápida MESMO.
E por último a sardinha. Faz muuuuuuita diferença uma sardinha boa. Vale a pena demais da conta gastar uns reais a mais para ter a melhor sardinha (ou atum, que fica joia nesta salada também). Nesse dia usamos uma sardinha maravilhosa que trouxemos de Portugal quando estivemos lá há pouco para a turnê do Esdras. Uma belezura.
Desta vez não rolou folhas da horta, mas estas estavam coloridas e crocantes. E foram temperadas com o molho que fiz aproveitando os suquinhos dos tomatinhos junto com o óleo da sardinha (uma das várias razões pelas quais faz muita diferença a qualidade da lata de sardinha).
O resultado final é esse daí. Uma salada colorida, cheia de texturas e sabores, que verdadeiramente vale como uma refeição e que verdadeiramente te dará prazer.
- 1 bom maço de folhas variadas
- 1 lata de sardinha (ou atum)
- um punhado de vagens francesas
- 1/8 de xícara de sementes de girassol
- 1/8 de xícara de pepita de abóbora
- 1 xícara de tomatinhos
- meia cebola roxa pequena fatiada finamente
- 4 ovos em temperatura ambiente
- 1-2 dentes de alho ralados
- 1/4 de xícara de azeite de oliva
- 2 c.s. de vinagre de vinho branco
- sal e pimenta do reino
- Coloque uma panela média cheia de água para ferver.
- Comece cortando os tomatinhos ao meio e colocando numa tigela pequena com os dentes de alho ralados, a cebola roxa, o azeite de oliva e o vinagre de vinho branco. Tempere com sal e pimenta e ajuste as quantidades à gosto.
- Acrescente as vagens francesas à água fervente. Enquanto elas cozinham por uns 3-5 minutos prepare uma tigela com pedras de gelo e água. Prove uma vagem, se estiver num ponto ainda crocante, mas já cozida, retire da água fervente e leve imediatamente para a tigela com gelo para cortar o cozimento. Depois de resfriadas, corte em pedaços menores.
- Diminua o fogo da panela com água para que fique fervilhando somente e acrescente cuidadosamente os ovos à água. Aumente o fogo e coloque um timer para 7 minutos. Retire os ovos da água fervente com uma escumadeira e leve imediatamente à tigela com água para cortar o cozimento.
- Numa frigideira pequena toste rapidamente as sementes de girassol e de abóbora em fogo médio. Se quiser, acrescente um fio de azeite e tempere com uma pitada de sal. Cuidado para não queimar. É bem rápido.
- Abra a lata de sardinha e reserve o óleo. Abra cada sardinha e retire cuidadosamente a espinha. Vai com calma que você tira ela inteira de uma só vez.
- Faça um molho com um pouco do óleo da sardinha e do molho que terá se formado nos tomatinhos temperados na tigela. Prove e ajuste à gosto.
- Tempere as folhas com um pouco do molho numa tigela grande, de preferência de diâmetro grande para os ingredientes não ficarem amontoados. Acrescente os demais ingredientes, tempere com um pouco mais de molho e sirva.
Para acompanhar essa maravilhosidade em forma de salada dá um play no single/clipe novo da Consuelo.
Já falamos da Consuelo por aqui. O Esdras/Rufus toca sax e flauta na banda liderada pela Claudia Daibert, vulgo Consuelo, nos vocais, Vavá Afiouni/Navalha no baixo, João Ferreira/ Juan no violão, Marcus Moraes/Bebe Legal na guitarra e Thiago Cunha/Severo na bateria (Marcus e Thiago também tocam no trabalho solo do Esdras e estavam viajando conosco este último mês).
Se você for de Brasília e quiser conferir a Consuelo ao vivo, o próximo show sera no festival COMA que acontecerá fim de semana que vem (10-12/8/18). O line-up do festival está maneiríssimo e além de tocar com a Consuelo o Esdras também tocará com o Sr Gonzales e a Serenata Orquestra e mediará um painel sobre música instrumental. Basicamente vamos morar no COMA no fim de semana que vem :P
beijos,
Mariana
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