Por aí: San Sebastián

Quem acompanha a gente pelo instagram e facebook sabe que acabamos de voltar de uma viagem maravilhosa pela Espanha e Irlanda. Vamos mentir não. A gente comeu bem pra dedéu nesta viagem. :)

Passamos por lugares que já conhecíamos e lugares novos e sem dúvida o que mais nos marcou foi San Sebastián, no país Basco. Foi amor à primeira vista e ele só aumentou com o passar dos dias. Passamos 5 dias de comilança intensa por lá, cozinhamos, aprendemos muito sobre novos ingredientes, e já sabemos que mais cedo ou mais tarde voltaremos. Sim. Foi amor verdadeiro. Desses que duram a vida inteira.

Pra quem gosta de comer San Sebastián não é nada menos que um paraíso. Não, não é exagero. A pequenina e charmosa cidade respira gastronomia por todos os lados. Confrarias mil, propagandas com chefs como personagem, a maior concentração de estrelas michelin do mundo, uma valorização total dos ingredientes locais, e pintxos, muuuuuuitos pintxos, cada um mais inacreditável do que o outro.

Não fomos a nenhum restaurante estrelado – até tentamos, mas necas de conseguir reserva em unzinho que fosse com menos de 2 meses de antecedência. Sinceramente, não sentimos falta. O esquema dos pintxos é simplesmente sensacional e de bar em bar entramos no clima dos locais comendo dois aqui, três ali, e assim provando mil maravilhas.

Pintxos ou pinchos são pequenas porções, pequenas mesmo, coisa de 3-4 mordidas, podem vir frias, normalmente num espetinho ou num pãozinho, numa vibe torradinha, ou vir quentes, tipo uma mini porçãozinha de algum prato. No geral custam de 2 a 4 euros cada e cada bar tem as suas especialidades. Quase todos dispõe a grande variedade de pintxos no balcão num sistema de confiança lindo. Você pega quantos quiser e no final diz quantos foram, raramente o atendente anota pra conferir depois. Os quentes normalmente estão escritos num quadro negro e normalmente são bem especiais.

No centro antigo da cidade, onde ficam quase todas as pintxerias, as pessoas vão de bar em bar, 2 ou 3 pintxos e uns bons drinks em cada e assim sucessivamente até ficarem felizes. Nós passamos os 5 dias fazendo isso e poderíamos ter feito isso por mais outros 5 e ainda não teríamos ido a todas as pintxerias recomendadas nem comido tudo que tinha nos interessado.

A seguir um apanhado dos hits, os pintxos que mais nos emocionaram, as maravilhas que queríamos repetir  mil vezes.

O Atari Gastroteka foi dos poucos bares que repetimos (o bar, não os pintxos) e talvez um dos que mais se parece a um bar brasileiro, apesar do balcão cheio de pintxos, com bastante lugar pra sentar – a maior parte das pintxerias não tem mesa ;). A Gastroteka é mais badalada, com música mais alta e bartenders que fazem drinks mais elaborados, para além de um vinhozinho ou os locais cidra e txakoli, um vinho branco bem leve que eles servem de grande altura para dar uma espumada. Por aqui comemos no primeiro dia uma bochecha de boi que desmanchava maravilhosamente acompanhada de um purê de batata, uma torradinha com patê de foie gras perfeita acompanhada de uma compota de maçã, e na volta, um segundo foie gras acompanhado de um purê de chocolate branco!

O Zeruko tem uma vibe bem mais contemporânea, com técnicas da gastronomia molecular. Nada é o que parece e nesse daqui, mesmo depois de mil perguntas, às vezes ficamos em dúvida do que estávamos comendo. Uma morcilla coberta por pistache, um creme de foie com uma geléia de cogumelos, uma gema dentro de um aspic de jamón sobre uma farofinha… Certamente as descrições não incluíram todos os detalhes desses pintxos da foto, mas que foi divertido foi.

La Cuchara de San Telmo foi outro que aparecia em tudo quanto é lista e que curtimos tanto que voltamos duas vezes para experimentar mais coisas. Esse é dos poucos que não tem o balcão repleto de pintxos frios. Aqui todos os pintxos são feitos na hora e o menu inteiro está no quadro negro. Comemos um raviolão de pato com alho poró maravilhoso, um caldinho com marisquinhos, um porco ultra macio com uma casquinha perfeita e um pato surreal de bom com uma camadinha de marmelo maravilhosa.

No Goiz Argi fomos de espetinhos. Tínhamos lido que o espetinho de camarão deles era especial. Esdras é alérgico e perdeu. Eu me deliciei e poderia ter pedido um monte. Vem com um molhinho, tipo uma vinagrete, incrível! Preciso descobrir a receita. Pegamos também um espetinho de rim surpreendente. Nada daquele gosto forte que normalmente vem com miúdos. Uma verdadeira maravilha.

O Mil Catas fica fora do centro antigo, no bairro Gros, que por acaso era onde estávamos hospedados. Num dia com clima particularmente desagradável (tivemos a manha de pegar tempo ruim todos os dias) ficamos felizes da vida ao ver que duas das pintxerias recomendadas ficavam coladinhas ao apt que alugamos. Eles fazem foie gras de mil formas e é claro que aproveitamos. Um com queijo idiazabal, um queijo maravilhoso da região, estava de lamber os beiços, mas o hit absoluto foi um com um caramelo meio cítrico. Wow. Também comemos um medalhão (como conseguiram fazer medalhão!?) de rabada divino e mais outra bochecha de boi, que apesar de deliciosa, não chegava aos pés da do Gastroteka.

Nosso outro bar de vizinhança foi o Hidalgo 56 que já ganhou diversos prêmios de melhor balcão de pintxos da cidade. Comemos umas coisas bem diferentosas aqui. O básico foi uma croqueta de jamón perfeita, o resto foi mais estranho. Rolou uma morcilla com ovo deliciosa, um caldo mega saboroso de boca – sim, boca mesmo! – de boi, kokotxas, que são uma glândula normalmente de bacalhau ou merluza, defumadas, e uma das sobremesas mais estranhas e bonitas que já comemos, uma torta de queijo idiazabal com frutas vermelhas defumada. Confesso que o defumado na sobremesa foi um tanto bizarro, realmente um gosto que não estávamos esperando, mas ainda assim ficamos fascinados.

Ainda comemos um foie gras com balsâmico delicioso no Dakara, vários pintxos mais “básicos”, mas não menos saborosos de ovo de codorna com morcilla, bacalhau, tortilla no Baztan, ovas de peixe com uma vinagrete perfeita e alcachofra fritinha e recheada com jamón no Martinez, mais uns tantos outros. Basicamente bom sempre vai ser e muitos serão espetaculares.

No quesito sobremesa, o La Viña, que também serve ótimas tortillas e pintxos clássicos, tem uma torta de queijo surreal de boa. Olhando pra ela você não dá nada, mas olha… que trem bom! E menção honrosa para os churros com chocolate do Santa Lucía Chocolatería, que técnicamente seriam de café da manhã, mas que são tão bons que vale a qualquer momento.

Deu pra sacar que ficamos encantados né? Tomara que vocês curtam nosso pequeno guia de pintxos :)

San Sebastián, todo nosso amor por você <3 Com certeza nos reencontraremos.

beijos,

Mariana